Moscas

Eu e você, assim, sujos de terra, costumávamos ser a gente. Mas agora que nos lavamos não fazemos mais parte de nada além das lembranças. E ficamos perdidos por lá, como moscas dentro de uma garrafa, esperando a primeira abertura da rolha para bater as asas e fugir.

Mas por que era tão divertido antes e mais nada agora? Por que a gente caminhou deserto adentro sem planos? Para simplesmente morrer de sede? Prefiro acreditar que não houve motivo consciente para o sucídio da nossa relação.

Coitada infeliz. Mal sabia ela que os suicidas jamais alcançam o céu. Ficam por aí vagando no limbo lodoso pelo meio dos vivos, arrependidos em sua maioria, desejando mais uma vez ser um deles. E nós, filhos dela, temos esta herança maldita. Condenados a eternamente tentar nos encontrar sujos de terra em outras pessoas.