Heitor Pontes em: conversa fofa.
Central, segunda-feira, 23 de janeiro de 2006. Heitor panfleta alegremente no lançamento do livro de Xico Sá. De repente ele é abordado por uma menina não identificada.
- Tão bonito esse panfleto. Quem fez?
- Fui eu.
- Sério. Tá muito bom.
- Obrigado.
- Mas diz. Tu trabalha em agência ou só com frila?
- Com os dois.
- É? E tu trabalha onde?
- Na Arcos.
- Ah, eu conheço uma menina de lá.
- Quem?
- Flavia.
- Flavia? Hum... não tem nenhuma Flavia lá não.
- Tem sim. Ela é aquela que tem uma girafa nas costas.
- Ah, eu conheço. Mas ela não trabalha na Arcos. Inclusive eu sou amigo do namorado dela. Deco. Tu conhece?
- Sim, eu conheço. Eles fazem um casal muiiiiiiiiiiito fofo.
- Deco? Fofo?!
- Tu num acha ele fofo não?
- Não. Eu acho ele é muito feio!
- Ah, né não. Ele e ela são lindos.
Moral da história. Eu tô gordo :/
Carta para 2044
Oi, Mauro.
Se você está abrindo essa carta hoje, vinte e dois de julho de dois mil e quarenta e quatro, vai estar tendo uma visão do passado. Porque você costumava ser eu quatro décadas atrás. E para ter certeza dessas palavras serem surpresa, estarei indo a uma sessão de hipnose daqui a três horas.
O porque disso tudo? Talvez um pouco de diversão. O fato é que resolvi fazer isso para que você tenha uma leitura bem agradável, lembrando de coisas boas que fez nos seus anos de juventude, justamente quando estará por completar sessenta e cinco. E falando em coisas boas, você lembra da Maria Theresa, aquela loirinha de cabelos longos e lábios carnudos? Pois você a comeu ontem. Fez ela gozar quatro vezes. Três com a boca. Mandou tão bem que ela até sugeriu chamar a Julinha, aquela amiguinha maluca dos cabelos cor de fogo, para brincar a três. Será que vai? Bem, isso com certeza, por mais gagá que você possa ter ficado, certamente não vai esquecer.
Ah, e hoje em dia você participa do clube do açougue, uma confraria feita por remanescentes da turma do colégio, onde se come, se bebe e se fala de carne. Uma tríplice aliança potencialmente explosiva. Fico aqui curioso em saber dos males que você estará sofrendo a longo prazo por conta dessa mistura explosiva.
Como andam as fotos? Aposto que você encheu vários DVDs com elas. A câmera até hoje já bateu exatas quatro mil, oitocentas e quarenta fotos. Ela ainda existe? Aliás, DVD ainda existe?
E tinha também sol e corpo queimado. Marca de biquínis embebidas com cheiro de maresia uma vez por semana em Boa Viagem, acompanhadas sempre de casquinho de caranguejo e uma soda bem gelada. E festivais de inverno lá em Garanhuns, com direto a seis graus em pleno Pernambuco.
E você, Mauro Aguiar? O que faz de bom hoje em dia? Não faço a mínima idéia. Espero apenas que esteja cuidando bem de mim.
Abração e muita saúde
Eu
P.S. – Espero apenas que você não tenha virado viado.
- E essa carta, amor? De quem é?
- De ninguém, querida. Apenas um fantasma.
- Um fantasma?
- E um fantasma feliz, Julinha. Acho que você fez um bom trabalho.
Argumento pouco aproveitado
A cirurgia não seria complicada. Por isso ele não fez nada demais. Apenas dormiu. E sonhou. REM em sua essência mais pura. Sabia muito bem o que estava fazendo.
Finalmente se sentia seguro o suficiente para flertar com todas as meninas atratentes que esbarrava pelos cantos. Sua autocrítica idiota o abandonara. Era a tão esperada alforria. Enfiou o pé na jaca. As melhores roupas, grandes restaurantes e noitadas ao lado das dezenas de amigos idílicos. Sem dor, frio ou fome, não havia motivo para sair daquela matrix. Pra quê abrir os olhos outra vez?
O coma ainda durou 21 anos. Nunca uma úlcera mal curada fizera tão bem antes.
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Recife, 27.01.05
Diagnóstico
Passei a vida inteira pagando de deprimido, mas devo admitir que isso eu não sou. Na verdade posso ser diagnosticado como chato. Melhor. Do contra. É por isso que toda vez que uma pontinha de felicidade começa a brotar eu a ceifo sem dó.
É mais ou menos como aquele lance do jardineiro que constrói um belo jardim do nada e, depois do desabrochar da primeira tulipa, passa o trator por cima só pra se enfiar no desafio da reconstrução.
De agora em diante vou lembrar de deixar uns probleminhas não resolvidos guardados embaixo da cama para qualquer emergência.
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A volta do blog, parte II – A missão (impossível?)